SALVADOR - A crise entre o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro, e seu partido, o PMDB, comandado na Bahia pela família Vieira Lima - do ex-ministro da Integração Nacional, Geddel, e seu irmão, o deputado federal eleito Lúcio, presidente da legenda no Estado -, chegou ao ápice na noite da segunda-feira.

Em reunião, a comissão de ética do partido resolveu suspender a filiação do prefeito por 90 dias, para estudar sua possível expulsão e dar a João Henrique o direito de resposta. Segundo a liderança do partido, o processo foi iniciado depois que um grupo de filiados entrou com pedido de afastamento de João Henrique no diretório regional baiano.

O prefeito afirma, por outro lado, que a ação interna do PMDB é jogo de cena. Segundo ele, há dois meses um escritório de advocacia de Brasília foi contratado para estudar uma forma de ele se afastar do partido sem perder o mandato.

O motivo alegado por João Henrique para sair do PMDB é a briga da legenda com o governo petista de Jaques Wagner, reeleito em primeiro turno em outubro. 'Não é possível administrar Salvador sem o apoio da administração estadual', justifica o prefeito. Na noite da segunda-feira, ele teria decidido sair da legenda e, logo depois, teria sido avisado sobre a suspensão.

Para justificar juridicamente sua saída ao Tribunal Regional Eleitoral, o prefeito pretende alegar que 'ofensas pessoais', partindo de lideranças peemedebistas no Estado, tornaram sua permanência na legenda 'insustentável'.

Para comprovar a alegação, João Henrique citará trechos da página do principal cacique do PMDB na Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, no Twitter. Na página, Geddel já chamou João Henrique de 'Menino Maluquinho' e qualificou a prefeitura como 'manicômio'.

Para o PMDB, a justificativa não é aceitável, porque não houve críticas diretamente feitas pela liderança oficial do partido no Estado - o presidente Lúcio Vieira Lima -, apenas de integrantes do partido, 'que têm o direito de expressar suas opiniões'. 'Vamos pedir o mandato do prefeito na Justiça', garante Lúcio.

Divergências

Eleito para o primeiro mandato pelo PDT, em 2004, João Henrique saiu da legenda em 2007 para se aproximar do então ministro Geddel e tentar garantir mais recursos para a Prefeitura. Entrou na disputa pela reeleição, em 2008, amargando 60% de reprovação e em terceiro lugar nas pesquisas de opinião. A situação incômoda fez com que o PT abandonasse sua administração meio ano antes da eleição, para lançar um candidato próprio - o deputado e senador eleito Walter Pinheiro, que acabou derrotado por João no segundo turno.

O rompimento do PT com a administração municipal estremeceu a relação entre a legenda e o PMDB na Bahia. Em 2009, foi a vez de os peemedebistas deixarem o apoio ao governo petista para lançar candidatura própria, do ex-ministro Geddel. João Henrique, em nova crise de popularidade à frente da prefeitura, não participou da campanha. Geddel ficou apenas em terceiro lugar, atrás do reeleito Wagner e do ex-governador Paulo Souto (DEM).

Após a eleição, João vem tentando nova aproximação com Wagner. Há duas semanas, promoveu uma ampla reforma em seu secretariado, afastando os últimos indicados pela liderança peemedebista de sua administração e tentando atrair legendas favoráveis ao governo petista, como o PP. Sobre seu novo partido, João Henrique afirma apenas que está avaliando propostas.